Oficina sobre saberes e conhecimentos tradicionais para lideranças indígenas

23 de setembro de 2021/

O Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia), por meio do Projeto Manaós Saúde da população indígena em contexto urbano: desafios da atenção primária no município de Manaus, promove no próximo sábado, 25/9, das 8h30 às 12h, a Oficina Valorizando os Saberes e Conhecimentos Tradicionais: Colóquios sobre as Vivências e Experiências Étnico-Culturais Indígenas. A atividade é voltada para lideranças indígenas da Comunidade Parque das Tribos.

O Projeto Manaós é vinculado ao Laboratório de História, Políticas Públicas e Saúde na Amazônia (Lahpsa/Fiocruz Amazônia) e foi aprovado no edital 2021 do Programa Inova Fiocruz – Saúde Indígena,   que “incentiva a transferência do conhecimento gerado em todas as áreas de atuação da Fundação Oswaldo Cruz para a sociedade, e conta com financiamento do Fundo de Inovação da Fiocruz e do Ministério da Saúde, por meio da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCTIE)”, explica o pesquisador  Rodrigo Tobias Lima, coordenador do Projeto.

São parceiras institucionais do Projeto Manaós: a Coordenação dos Povos Indígenas de Manaus e Entorno (Copime), Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Secretaria Municipal de Saúde de  Manaus (Semsa-Manaus), Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (SES-AM), Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai-AM), Universidade Federal do Amazonas (Ufam-AM), Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Fiocruz Brasília e Fiocruz Ceará.

O objetivo principal do Projeto é avaliar as condições de saúde da população indígena residente na Comunidade do Parque das Tribos, localizada na zona oeste de Manaus, e analisar sua capacidade de acesso à rede de serviços de saúde na capital.

“No Parque das Tribos vivem aproximadamente 3 mil indígenas, e concentra uma população étnica extremamente diversificada, sendo os Tucano, os Saterê-Mawé, os Tariana e os Ticuna as etnias mais numerosas. A pandemia da Covid-19 expôs ainda mais as populações tradicionais residentes em espaços urbanos, o que exige de nós, pesquisadores, maior compreensão das condições de vida a que estão submetidos esses grupos”, comenta Rodrigo Lima.

O Projeto já gerou dois importantes resultados indiretos como a criação de uma associação dos moradores e indígenas do Parque das Tribos, e a aprovação de projeto com financiamento da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) para a realização de ações de enfrentamento à Covid-19 no Parque das Tribos.

O coordenador observa que esses resultados contribuem para o empoderamento de famílias e auto-organização do coletivo de indígenas na busca de direitos, além de demostrarem o reconhecimento internacional das ações já desenvolvidas, no sentido de proteção social e de promoção de saúde com populações indígenas em contextos urbanos.

A Oficina Valorizando os Saberes e Conhecimentos Tradicionais: Colóquios sobre as Vivências e Experiências Étnico-Culturais Indígenas será ministrada pela professora e assistente social Andreia Cavalcante, da Semsa-Manaus.

Doenças cardiovasculares e a saúde de indígenas Munduruku

Estudo divulgado na Revista Latino-Americana de Enfermagem comprovou prevalência de hipertensão e pré-hipertensão entre indígenas da etnia Munduruku, residentes na terra indígena Kwata-Laranjal, localizada no município de Borba (AM).

Por Grace Soares, jornalista.

Foto: Divulgação/Greenpeace.

O artigo foi publicado este mês de setembro e é fruto da dissertação de mestrado intitulada “Avaliação de Fatores de Risco Cardiovasculares, com ênfase na Hipertensão Arterial, em indígenas Munduruku”, de autoria da enfermeira Neuliane Melo e apresentada em 2019 à Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). O tema evidenciou a necessidade de investigar fatores de risco cardiovascular entre os indígenas, de modo que possam ser estabelecidas metas e estratégias capazes de diminuir o fato risco-doença entre populações vulneráveis.

De acordo com a publicação, os distúrbios cardiovasculares integram o grupo de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) e são responsáveis por mais de 70% das causas de mortes entre adultos. Dentro dessa área, duas doenças foram identificadas como prevalentes: a hipertensão arterial sistêmica (HAS) e a pré-hipertensão. Alguns fatores de risco, tais como, consumo de álcool, obesidade, tabagismo, sedentarismo (falta de exercício físico) e alimentação incorreta, facilitam o desenvolvimento dessas doenças.

Aspectos econômicos e socioculturais também geram influência no aumento (ou não) de casos de DCNT. Minorias étnicas (como os indígenas, por exemplo), pessoas com nível socioeconômico baixo, populações rurais, são grupos suscetíveis, ou seja, possuem mais chance de desenvolverem uma doença cardiovascular. Por isso é importante fortalecer ações de cuidado e de promoção de saúde entre esses públicos.

Coleta dos dados

A terra Kwatá-Laranjal pertence ao Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) de Manaus e é formada por 31 aldeias (sendo a Laranjal e a Kwatá as principais), onde vivem 2.484 indígenas Munduruku, falantes da língua portuguesa.

Participaram da pesquisa 459 indígenas, com idade entre 18 e 80 anos, de ambos os sexos. A coleta dos dados ocorreu nos meses de agosto e setembro de 2018 e contou como instrumentos entrevistas, aplicação de questionários e realização de exames de sangue e físico. As visitas aconteceram em quatro principais comunidades: Laranjal, Macajá, Kwatá e Fronteira.

Resultados

Para identificar os fatores de risco associados à pré-hipertensão e à hipertensão arterial entre o público do estudo, as pesquisadoras analisaram diversas variáveis: aspectos sociodemográficos (idade, sexo, renda, estado civil, escolaridade etc.); dados antropométricos (medidas corporais, relação peso/altura); dados metabólicos (exames de sangue); e dados sobre hábitos e estilo de vida (uso de cigarro, consumo de álcool, atividade física etc.).

Após as análises, identificou-se que 10,2% do total de 459 indivíduos colecionavam valores (dados) indicativos de um quadro de hipertensão e 4,1% de pré-hipertensão. Outra informação importante é que os homens são os maiores afetados.

Direcionando um olhar mais apurado sobre os dados relacionados à avaliação antropométrica (medidas corporais, relação peso/altura), é possível explicar a causa (ou parte dela) da prevalência dessas duas doenças. Uma delas está no fato de muitos indivíduos estarem acima do peso considerado ideal, com destaque para medidas fora do padrão nas áreas da cintura (circunferência), pescoço, cintura e quadril (relação cintura/quadril). Esses fatores aumentam as chances de desenvolvimento de HAS.

Importante destacar que a obesidade é um indicativo de risco de DCTN que tem demonstrado um impacto muito maior em grupos vulneráveis, se comparado a outras populações.

O trabalho de Neuliane Melo integra o Grupo de Estudos e Pesquisa em Saúde com Populações em Situação de Vulnerabilidade na Amazônia (GEPSPVAM/UFAM), liderado pela professora e pesquisadora Noeli das Neves Toledo, que faz parte da equipe do Projeto Manaós, atuando como coordenadora do subprojeto 1, destinado ao mapeamento do perfil de saúde e socioeconômico dos moradores do Parque das Tribos.

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“Canção pra Amazônia”

Texto: Jorge Eduardo Dantas (do Greenpeace Brasil)

Mais de 30 artistas, de vários estilos e gerações, pedem pela conservação do maior bioma brasileiro

Foi lançado na noite deste domingo (5), no programa “Fantástico”, da Rede Globo (RJ), um novo projeto artístico em prol da conservação das florestas brasileiras: é a “Canção pra Amazônia”, a nova empreitada do compositor Carlos Rennó no mundo das canções engajadas. 

Disponibilizada em áudio e vídeo, a Canção pra Amazônia é um grande apelo pela conservação da maior floresta tropical do planeta. Em sua letra, ela cita diversos problemas ambientais que ocorrem naquele bioma e que agravam a crise climática – como garimpo, a extração predatória de madeira, o ataque aos povos indígenas, e “as boiadas” do governo Bolsonaro que aumentam a pressão sobre a floresta e seus povos. A letra foi feita por Carlos Rennó e a melodia, por Nando Reis.

Participam da canção Agnes Nunes; a dupla Anavitória; Arnaldo Antunes; Baco Exu do Blues; Caetano Veloso; a atriz Camila Pitanga; Céu; Chico César; Criolo; Daniela Mercury; Diogo Nogueira; Djuena Tikuna; Duda Beat; Elza Soares; Flor Gil; Gaby Amarantos; Gal Costa; Gilberto Gil; Iza; Majur; Maria Bethânia; Milton Nascimento; Nando Reis; Péricles; Preta Gil; Rael; Rincon Sapiência; Samuel Rosa; Thaline Karajá; Vitão; e o sambista Xande de Pilares.

Ouça a canção nas principais plataformas: https://onerpm.link/cacaopraamazonia

Visite o site: https://vozdafloresta.com/ 

Nando Reis contou que o objetivo da Canção pra Amazônia é chamar a atenção para a violenta e gravíssima destruição deste grande patrimônio natural brasileiro: “Essa destruição vai na contramão de todo pensamento moderno ou sensato que existe até mesmo sobre a produção de riquezas. A destruição da Amazônia tem transformado a riqueza da floresta em um deserto, algo que trará gravíssimas consequências para o mundo. Por isso, a única medida cabível é alertar sobre a conservação”, disse.

O cantor e compositor contou também que os artistas, devido a sua popularidade e notoriedade, contribuem para levar mensagens importantes para “mais gente”: “Mas o que está por trás de um movimento como esse, da Canção pra Amazônia, é o pensamento de um cidadão. De todos nós emprestarmos as ferramentas que temos disponíveis em favor dessa causa”, contou o músico.

Amplificar vozes

É importante dizer que a Canção pra Amazônia não tem fins comerciais. Todos os custos envolvidos no processo foram para despesas fixas, como horas de gravação em estúdio. Os artistas participantes responderam a um convite e não receberam cachês, além de cederem sua imagem e voz para este projeto. “Queríamos mobilizar segmentos diversos, trazer artistas comprometidos com a causa e que pudessem amplificar, com suas vozes, o alcance da canção”, explicou Nando. Os cantores e cantoras participantes responderam ao chamado baseados em suas agendas, disponibilidade de tempo e afinidade com a pauta. 

Letrista da canção, Carlos Rennó contou que a Canção pra Amazônia é um projeto que existe há quase dois anos. A letra foi feita entre o final de 2019 e o início de 2020. “Entreguei a letra ao Nando no início do ano passado, quando a gente se preparava para colocar o projeto de pé. Mas aí veio a pandemia e mudou tudo”, disse o compositor. 

A gravação da música levou cerca de sete meses, entre fevereiro e agosto de 2021. Cada artista gravou seu trecho separadamente, como forma de minimizar os riscos de contaminação por Covid-19. Por isso, houve um intenso trabalho logístico nos bastidores para garantir que todos os artistas gravassem de maneira segura e eficiente, e pudessem também gravar sua participação no clipe da canção.  

Participação de todos

Coordenadora-executiva da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Nara Baré afirmou que a luta pela vida e pela conservação das florestas exige a participação de todos aqueles preocupados com o futuro do planeta.

“Estamos vivendo um período de grandes retrocessos, de grande violência contra a Amazônia e de grandes agressões aos povos indígenas. Ter tantas vozes somando neste movimento e chamando a atenção para esses problemas é muito bonito e útil. Mas precisamos de mais gente, de mais ação e de mais atitudes se queremos mudar o futuro que está se desenhando e as perspectivas negativas que temos hoje para a Amazônia”, disse a coordenadora.

Carolina Marçal é a Porta-Voz da Campanha da Amazônia do Greenpeace. Ela afirmou que apoiar este tipo de projeto faz parte da história da organização.

“O Greenpeace sempre procurou formas criativas e não-violentas de disseminar as mensagens que acreditamos e de engajar as pessoas na construção de um mundo mais verde e justo. Participar de um projeto desse porte, com tantos artistas importantes e relevantes da música brasileira, é uma maneira poética e forte de passar as nossas mensagens e de posicionar a sociedade a respeito da Amazônia. Apesar do desgoverno Bolsonaro que implementa uma agenda anti-ambiental destrutiva, nós continuaremos resistindo e lutando pela Amazônia. A arte é uma forma poderosa de ativismo, de luta e de resistência, e para nós é uma honra participar de um projeto como este”, disse a especialista. 

Dados

Canção pra Amazônia é uma iniciativa do Greenpeace e da Relicário Produções, que cuidaram da produção executiva da ação. Este projeto teve apoio também da Articulação dos Povos Indígenas no Brasil (Apib), da Coiab, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional – FASE Amazônia.

Recentemente, dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostraram que agosto de 2021 registrou 28.060 focos de calor, o terceiro pior índice da década! Este ano ficou atrás apenas de agosto de 2019 e agosto de 2020, mostrando como a gestão Bolsonaro tem sido ineficiente no combate ao fogo na Amazônia. 

Além disso, estudo recente do MapBiomas mostrou que, entre 1985 e 2020, a área utilizada para garimpo e mineração no Brasil cresceu seis vezes – saltando de 31 mil para 206 mil hectares. Só a Amazônia concentra 72,5% desse total. Isso significa que, de cada quatro hectares minerados no Brasil, três deles estão na Amazônia. Outro dado importante mostra que, entre janeiro e julho de 2021, 74% da abertura de novas áreas para mineração incidiu em áreas protegidas – como Terras Indígenas e Unidades de Conservação – revelando como o patrimônio natural brasileiro vem sendo depredado de maneira irracional e inconsequente. 

Oficinas com lideranças indígenas

Programação inclui discussões sobre saberes tradicionais e a questão da saúde indígena

O Projeto Manaós iniciará, neste mês de setembro, oficinas voltadas para as lideranças indígenas da Comunidade Parque das Tribos.

A primeira atividade ocorrerá no dia 25, sábado, pela parte da manhã, no espaço do Malocão.

Todos os moradores da comunidade estão convidados a participar.

Confiram a programação:

25/09/2021, às 8h30 às 12h: OFICINA 1 – VALORIZANDO OS SABERES E CONHECIMENTOS TRADICIONAIS: COLÓQUIOS SOBRE AS VIVÊNCIAS E EXPERIÊNCIAS ÉTNICO-CULTURAIS INDÍGENAS.

A ação é coordenada pela pesquisadora Andréia Cavalcante e contará com a presença de diversos parceiros.

Participe!