Fiocruz Amazônia estuda saúde dos indígenas que vivem nas cidades

Projeto Manaós realiza uma série de atividades voltadas para 750 famílias de 35 etnias que vivem em Manaus, no Amazonas

Tarde Nacional – Amazônia

No AR em 03/04/2023 – 18:48

O Tarde Nacional – Amazônia falou sobre a saúde de indígenas que vivem fora das aldeias, nos centros urbanos. O entrevistado foi Rodrigo Tobias, pesquisador da Fiocruz Amazônia e coordenador do Projeto Manaós de Saúde Indígena. 

O projeto realiza uma série de atividades voltadas para as 750 famílias de 35 etnias que vivem no Parque das Tribos, primeiro bairro indígena de Manaus, no Amazonas. 

Segundo Rodrigo Tobias, é fundamental que sejam reunidas informações sobre a saúde dessas populações, para que se invista em políticas públicas que atendam a esse público em específico. Ele salientou que é preciso saber os motivos que fizeram com que esses indígenas deixassem suas aldeias e também entender as mudanças de hábitos, inclusive os alimentares.

O coordenador explicou que, na primeira fase do projeto, foi feito um levantamento dos principais agravos de saúde que acometem essa população. Na segunda fase, que ainda está em andamento, objetivo é investigar a prevalência de fatores de risco associados a doenças cardiovasculares. 

O pesquisador contou, ainda, que faz parte do projeto a criação de uma unidade de saúde culturalmente diferenciada, com espaços para reuniões entre os indígenas e espaços para os pajés, promovendo um encontro entre a ciência, a medicina e os saberes tradicionais. A previsão é de que, até o final de junho, a UBS esteja funcionando em Manaus. 

Ouça a entrevista completa no player acima. 
 
O programa Tarde Nacional – Amazônia vai ao ar de segunda a sexta-feira, das 15h às 17h, na Rádio Nacional da Amazônia. A apresentação é de Juliana Maya. 

TAGS:  SAÚDE INDÍGENA POVOS INDÍGENAS

Saiba mais: https://radios.ebc.com.br/tarde-nacional-amazonia/2023/04/fiocruz-amazonia-estuda-saude-dos-indigenas-que-vivem-nas-cidades

Doenças cardiovasculares e a saúde de indígenas Munduruku

Estudo divulgado na Revista Latino-Americana de Enfermagem comprovou prevalência de hipertensão e pré-hipertensão entre indígenas da etnia Munduruku, residentes na terra indígena Kwata-Laranjal, localizada no município de Borba (AM).

Por Grace Soares, jornalista.

Foto: Divulgação/Greenpeace.

O artigo foi publicado este mês de setembro e é fruto da dissertação de mestrado intitulada “Avaliação de Fatores de Risco Cardiovasculares, com ênfase na Hipertensão Arterial, em indígenas Munduruku”, de autoria da enfermeira Neuliane Melo e apresentada em 2019 à Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). O tema evidenciou a necessidade de investigar fatores de risco cardiovascular entre os indígenas, de modo que possam ser estabelecidas metas e estratégias capazes de diminuir o fato risco-doença entre populações vulneráveis.

De acordo com a publicação, os distúrbios cardiovasculares integram o grupo de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) e são responsáveis por mais de 70% das causas de mortes entre adultos. Dentro dessa área, duas doenças foram identificadas como prevalentes: a hipertensão arterial sistêmica (HAS) e a pré-hipertensão. Alguns fatores de risco, tais como, consumo de álcool, obesidade, tabagismo, sedentarismo (falta de exercício físico) e alimentação incorreta, facilitam o desenvolvimento dessas doenças.

Aspectos econômicos e socioculturais também geram influência no aumento (ou não) de casos de DCNT. Minorias étnicas (como os indígenas, por exemplo), pessoas com nível socioeconômico baixo, populações rurais, são grupos suscetíveis, ou seja, possuem mais chance de desenvolverem uma doença cardiovascular. Por isso é importante fortalecer ações de cuidado e de promoção de saúde entre esses públicos.

Coleta dos dados

A terra Kwatá-Laranjal pertence ao Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) de Manaus e é formada por 31 aldeias (sendo a Laranjal e a Kwatá as principais), onde vivem 2.484 indígenas Munduruku, falantes da língua portuguesa.

Participaram da pesquisa 459 indígenas, com idade entre 18 e 80 anos, de ambos os sexos. A coleta dos dados ocorreu nos meses de agosto e setembro de 2018 e contou como instrumentos entrevistas, aplicação de questionários e realização de exames de sangue e físico. As visitas aconteceram em quatro principais comunidades: Laranjal, Macajá, Kwatá e Fronteira.

Resultados

Para identificar os fatores de risco associados à pré-hipertensão e à hipertensão arterial entre o público do estudo, as pesquisadoras analisaram diversas variáveis: aspectos sociodemográficos (idade, sexo, renda, estado civil, escolaridade etc.); dados antropométricos (medidas corporais, relação peso/altura); dados metabólicos (exames de sangue); e dados sobre hábitos e estilo de vida (uso de cigarro, consumo de álcool, atividade física etc.).

Após as análises, identificou-se que 10,2% do total de 459 indivíduos colecionavam valores (dados) indicativos de um quadro de hipertensão e 4,1% de pré-hipertensão. Outra informação importante é que os homens são os maiores afetados.

Direcionando um olhar mais apurado sobre os dados relacionados à avaliação antropométrica (medidas corporais, relação peso/altura), é possível explicar a causa (ou parte dela) da prevalência dessas duas doenças. Uma delas está no fato de muitos indivíduos estarem acima do peso considerado ideal, com destaque para medidas fora do padrão nas áreas da cintura (circunferência), pescoço, cintura e quadril (relação cintura/quadril). Esses fatores aumentam as chances de desenvolvimento de HAS.

Importante destacar que a obesidade é um indicativo de risco de DCTN que tem demonstrado um impacto muito maior em grupos vulneráveis, se comparado a outras populações.

O trabalho de Neuliane Melo integra o Grupo de Estudos e Pesquisa em Saúde com Populações em Situação de Vulnerabilidade na Amazônia (GEPSPVAM/UFAM), liderado pela professora e pesquisadora Noeli das Neves Toledo, que faz parte da equipe do Projeto Manaós, atuando como coordenadora do subprojeto 1, destinado ao mapeamento do perfil de saúde e socioeconômico dos moradores do Parque das Tribos.

Acesse o artigo completo clicando aqui