Ministério da Saúde prestigia lançamento de livro com resultados do Projeto Manaós no Parque das Tribos

25 de fevereiro de 2024/

O Projeto Manaós: Saúde Indígena no Contexto Urbano, desenvolvido pela Fiocruz Amazônia, realizou no último dia 21/02, o lançamento do livro “A Saúde Indígena nas Cidades: Redes de Atenção, Cuidado Tradicional e Intercultural”, desta vez num local simbólico para o estudo: a Maloca do Parque das Tribos, onde a pesquisa teve início, em 2020, com a finalidade de avaliar as condições de saúde da população indígena residente na comunidade, que reúne 35 etnias indígenas da Amazônia, na Zona Oeste de Manaus. O lançamento contou com a presença do assessor especial para Territórios e Periferias do Ministério da Saúde, Valcler Rangel Fernandes. O projeto fez uma análise da capacidade de acesso das famílias indígenas à rede de serviços de saúde da capital, exatamente no período de pico pandêmico da Covid-19, identificando potencialidades e principais agravos de saúde que acometem a população, fortalecendo também o protagonismo indígena naquele território.

O livro traz o relatório final do trabalho e vários estudos e experiências promissoras na produção do cuidado em saúde para o SUS no Brasil, coordenado pelo pesquisador em Saúde Pública Rodrigo Tobias Lima, do Laboratório de História, Política Públicas e Saúde na Amazônia (LAHPSA), da Fiocruz Amazônia. De acordo com ele, o Projeto Manaós está encerrando um ciclo de atividades, com um legado de conquistas para a comunidade. “O Projeto Manaós fomentou a auto-organização do coletivo indígena para além dos resultados da pesquisa. Teve uma implicação social, promoveu arranjos, debates, oficinas, resoluções, evidências científicas, com o protagonismo total da comunidade, que junto ao poder público fez surgir uma Unidade Básica de Saúde, Porte 4, sensivelmente e culturalmente diferenciada, talvez a primeira do Brasil com essas características, no local onde antes havia uma tenda para acomodar indígenas com Covid-19”, relatou Rodrigo Tobias.

Segundo o pesquisador, o legado deixado pelo projeto perpassa a capacidade de diálogo da comunidade com o Poder Público. “Hoje, a Semsa Manaus tem canal aberto de diálogo com a comunidade e está disposta a ouvir os indígenas. Construir a USF Parque das Tribos é um passo importante, porém o que dará sentido e significado a essa estrutura será o uso da mesma pelos indígenas, que precisam dizer o que querem desse tipo de serviço”, avaliou Tobias, referindo-se à importância da USF Parque das Tribos para a comunidade e para o Sistema Único de Saúde (SUS) em territórios vulneráveis.

“A unidade se tornará de fato diferenciada quando incorporar as práticas populares, os conhecimentos tradicionais indígenas, tiver um espaço para cultivo de ervas e plantas medicinais. Para os indígenas, a concepção do que é saúde vai além da concepção do homem branco, daí a importância de um espaço de curas para pajés e de cuidado pelas parteiras lá dentro da UBS, por exemplo. Seria algo extremamente inovador e que provoca o SUS nos seus princípios da equidade e da integralidade da atenção à saúde”, explica Tobias.

Para o assessor especial do MS, Valcler Rangel, a experiência vivenciada pelo coletivo indígena do Parque das Tribos é significativa e pode servir de referência para outros territórios. “Saio daqui com a sensação de que encontrei um lugar onde podemos realizar parcerias. Estou em busca desses locais, onde haja um amadurecimento maior da relação sociedade civil e poder público, no tocante à saúde”, explicou. Ele avaliou que, no Parque das Tribos, existe uma composição entre Poder Público, sociedade civil e academia que não é fácil de se encontrar em outros territórios. “Saio daqui com mais otimismo. As questões aqui mencionadas fazem parte do enriquecimento deste território, cuja ancestralidade se expressa na possibilidade de mobilização dessa comunidade em torno de causas muito concretas, em especial a saúde”, observou.

Valcler Rangel lembrou também a importância da pesquisa científica para o território, referindo-se ao Projeto Manaós. “Não é uma pesquisa de bancada de laboratório, não desvalorizando as pesquisas de bancada, mas uma pesquisa que fazemos num número menor de vezes e para a qual precisamos adquirir muita experiência com a participação social, olhando para os problemas na materialização das desigualdades nesses territórios de periferia. Aqui estamos numa periferia que tem uma população indígena urbana, que muitas vezes fica no limbo”, salientou.

O lançamento contou com a presença de representantes da Secretaria Municipal de Saúde (Semsa-Manaus), Universidade de São Paulo (USP), Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Fundação de Vigilância em Saúde Dra Rosemary Costa Pinto (FVSRCP-AM), Fiocruz Brasília e lideranças indígenas da comunidade, entre as quais Ismael Munduruku. “Deus escolheu o Parque das Tribos e tem enviado pessoas para ajudar a nossa comunidade. Isso é muito bom. Temos nossos dias de paz e de guerra e vivemos muitas guerras para que essa comunidade estivesse aqui estabelecida. Essa maloca é um lugar de paz, agradecer a todos por todas as conquistas, especialmente a todos os moradores e lideranças de nossa comunidade porque foi lutando juntos que conseguimos muitas conquistas. O Parque das Tribos está de porta abertas para todos que quiserem ajudar e somar, avançar até que as boas novas alcancem todos os parentes da cidade de Manaus, todos os indígenas que conhecemos vivendo em lugar insalubres, marginalizados”, afirmou Ismael. Após o lançamento, a comitiva fez uma visita às instalações da USF Parque das Tribos, para conhecer a estrutura da unidade.

Fiocruz Amazônia prestigia inauguração da Unidade de Saúde da Família Parque das Tribos

1 de fevereiro de 2024/

A Fiocruz Amazônia marcou presença na solenidade de inauguração da Unidade de Saúde da Família (USF) Parque das Tribos, entregue na manhã desta quarta-feira, 31/1, na comunidade indígena Parque das Tribos, na zona Oeste. A unidade de saúde é a segunda de porte 4 construída pela Prefeitura de Manaus, por meio da Secretaria Municipal de Saúde (Semsa). Com um total de 1,2 mil metros de área construída, e capacidade para realizar até 24 mil procedimentos por mês, a USF Parque das Tribos é símbolo de conquista para a população de aproximadamente 4 mil pessoas das 35 etnias indígenas que residem no bairro com a maior concentração indígena da área urbana de Manaus.

A entrega da unidade de saúde marcou também o encerramento das atividades do Projeto Manaós: Saúde Indígena no Contexto Urbano, desenvolvido pelo Laboratório de História, Politicas Públicas e Saúde na Amazônia  (Lahpsa), da Fiocruz Amazônia, coordenado pelo pesquisador em Saúde Pública Rodrigo Tobias, presente à inauguração juntamente com a diretora da Fiocruz Amazônia, Stefanie Lopes.

“Além de ser de porte 4, a unidade de saúde é a primeira que será culturalmente diferenciada do Brasil. Simbolicamente, a inauguração aconteceu no dia que finalizamos oficialmente o Projeto Manaós. O Manaós auxiliou e promoveu no empoderamento da associação de moradores e indígenas do Parque das Tribos, que culminou na autoorganização e protagonismo nas bandeiras de luta na saúde”, explica Rodrigo Tobias.

A diretora da Fiocruz Amazônia, Stefanie Lopes, destacou características importantes da USF do Parque das Tribos que perpassam os objetivos do Projeto Manaós. “O projeto desenvolvido junto à comunidade teve implicações sociais de peso, como a criação da Associação Indígena dos Moradores do Parque das Tribos, a formação de Agentes Indígenas de Saúde no contexto urbano, formação de médicos, enfermeiros e técnicos na expectativa da interculturalidade e consonância com a política nacional de incorporação da medicina indígena no SUS”, ponderou Stefanie.

O prédio conta com dois pisos e 54 ambientes equipados para os atendimentos básicos de saúde. Na unidade, serão oferecidas consultas médicas em clínica, de enfermagem e odontológicas, exames laboratoriais, ultrassonografia, exames específicos como preventivo de câncer de colo de útero, teste do pezinho, testes rápidos para sífilis, HIV e hepatites virais, dispensação de medicamentos, inclusive antibióticos e outros de controle especial. A USF funcionará de segunda a sexta-feira, das 7h às 17h, e o acesso aos serviços oferecidos será por meio de agendamento realizado presencialmente.

A unidade contará com espaço dedicado à implantação de uma horta medicinal pelos indígenas. Por sua localização, em território de grande concentração indígena, a unidade terá ainda uma equipe de agentes indígenas de saúd

Fiocruz Amazônia apresenta resultados de projetos no Seminário Avanços e Desafios da Saúde Indígena no Brasil

27 de novembro de 2023/

O Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia) estará presente, de 28 a 30/11, no Seminário “Avanços e Desafios da Saúde Indígena no Brasil: contribuições dos projetos da parceria Fiocruz/Sesai”, apresentando os resultados obtidos até agora com a implementação de projetos de saúde indígena em territórios urbanos e rurais no Estado do Amazonas. Os projetos são desenvolvidos pelo Laboratório de História, Políticas Sociais e Saúde na Amazônia (Lahpsa), do ILMD/Fiocruz Amazônia, por meio do Edital Saúde Indígena, do Programa Inova Fiocruz. O evento acontece no Museu da Vida, na sede da Fiocruz, no Rio de Janeiro, reunido cerca de 220 participantes, entre lideranças indígenas, pesquisadores, gestores e representantes de instituições governamentais que fazem parte dos 20 projetos concluídos.

As experiências apresentadas no seminário serão os projetos “Manaós: Saúde da População Indígena em Contexto Urbano” e “Capacitação de Conselheiros Indígenas de Saúde do DSEI/Manaus, com uso das TICs (Tecnologias da Informação e Comunicação)”, coordenados, respectivamente, pelos pesquisadores em Saúde Pública da Fiocruz Amazônia, Rodrigo Tobias e Kátia Lima. O objetivo do seminário é promover o debate sobre a saúde indígena no Brasil a partir da apresentação dos resultados dos projetos, razão pela qual parte do seminário é reservada apenas para os integrantes e parceiros dos projetos. Haverá também a Tenda Cultural “Diálogos e Saberes”, ao lado do Museu da Vida. A Tenda contará com estandes dos projetos e de produtos indígenas, além de dois espaços especiais: “Práticas e Saberes Ancestrais Indígenas em Saúde”, onde ocorrerão rodas de conversa e vivências sobre os conhecimentos ancestrais em saúde, e o Cine Saúde Indígena com exibição de curtas e documentários sobre o tema.

O Projeto Manaós encontra-se em sua segunda fase de execução de atividades voltadas para as 750 famílias de 35 etnias indígenas, que vivem no Parque das Tribos, primeiro bairro indígena de Manaus. Lideranças indígenas da localidade, a cacica Lutana, presidente da Associação Indígena dos Moradores do Parque das Tribos (AIMPAT), e Lecia Witoto estarão presentes ao seminário. O projeto atuou inicialmente no diagnóstico da realidade dos indígenas desaldeados e as dificuldades enfrentadas por eles no acesso aos serviços de saúde. Na etapa atual, desenvolve linhas específicas de ação, voltadas ao empoderamento comunitário, formação de agentes indígenas de saúde e a investigação de fatores de risco cardiovasculares dos indígenas que vivem na área urbana. O projeto deu origem ao livro “A saúde indígena nas cidades: redes de atenção, cuidado tradicional e intercultural”, que será lançado durante o seminário, trazendo relatos sobre trabalhos e incursões junto aos povos indígenas no Brasil, com especial atenção aos que vivem em contextos urbanizados. Entre as experiências abordadas, está o Projeto Manaós.

As pesquisadoras Kátia Menezes Lima e Fabiane Vinente apresentarão os resultados do  Projeto Capacitação de Conselheiros Indígenas de Saúde do DSEI/Manaus, com uso das TICs (Tecnologias da Informação e Comunicação)”, pesquisa-ação cujo objetivo foi o de analisar as formas de enfrentamento à COVID-19 nas aldeias dó Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI), de Manaus, a partir da realização de oficinas de capacitação com conselheiros e agentes indígenas de saúde para discutir mecanismos de prevenção. A pesquisa foi viabilizada por meio do Edital de Saúde Indígena No 1/2021, do Programa Fiocruz de Fomento à Inovação, o Inova Fiocruz. Por conta do projeto, o DSEI Manaus foi pioneiro na implantação da iniciativa de capacitação on line no Estado. O programa, lançado em 2018, tem como objetivo fomentar a pesquisa e a inovação, resultando na entrega de produtos/conhecimento/serviços para a sociedade, a partir de pesquisas na área de saúde.

Fiocruz Amazônia tem projeto premiado como experiência exitosa pelo Laboratório de Práticas de Participação Social em Saúde da OPAS

21 de novembro de 2023/

O projeto “Direito a Cidade e a Saúde de Populações Indígenas”, derivado do Projeto Manaós: Saúde Indígena no Contexto Urbano, desenvolvido pela Fiocruz Amazônia, foi premiado como uma das 31 iniciativas promissoras em participação comunitária escolhidas pelo Laboratório de Inovação Latino-Americano de Práticas de Participação Social em Saúde, da Organização Panamericana de Saúde (OPAS). O projeto foi selecionado entre 144 experiências da Região das Américas, submetidas ao laboratório. O anúncio foi feito durante live, aberta ao público, no último dia 14/11, no Canal do Youtube, Portal da Inovação na Gestão do SUS. A iniciativa da OPAS/OMS no Brasil e do Conselho Nacional de Saúde conta com a parceria do Centro de Educação e Assessoramento Popular (CEAP). Além do Amazonas, foram premiados projetos desenvolvidos nos estados do Amapá, Espírito Santo, Santa Catarina, Bahia, São Paulo e Distrito Federal. A iniciativa também contemplou experiências do Chile, Peru, México, Argentina, Bolívia e Panamá.

Coordenador do Projeto Manaós, o pesquisador em Saúde Pública da Fiocruz Amazônia, Rodrigo Tobias, comemorou a premiação como um reconhecimento ao trabalho que demonstrou a experiência de empoderamento comunitário e autonomia da Associação de Indígenas e Moradores do Parque das Tribos (Aimpat), associada à pesquisa participativa de autoria da egressa do Mestrado em Condições de Vida e Situação de Saúde na Amazônia (PPGVIDA), Raniele Alana Alves, com o apoio da mestranda também do PPGVIDA Mayra Farias. O trabalho comporá um dos capítulos do livro com as experiências exitosas a ser editado pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS) e OPAS. “Compartilhamos o prêmio com a equipe que fez parte desse processo e, sobretudo minhas mestrandas e a cacica Lutana Kokama, liderança indígena do Parque das Tribos, que escreveu conosco a experiência”, ressaltouTobias.

O objetivo do LIS CNS Internacional é identificar, sistematizar e reconhecer experiências exitosas de participação e engajamento social em políticas públicas e práticas em saúde, voltadas ao aprimoramento dos serviços e ações de saúde, gerando trocas e aprendizados entre os atores sociais envolvidos que potencializam sua ação local, regional, nacional e internacional. “Maravilha poder compartilhar o resultado construído a muitas mãos e mentes. Muitas vezes, subestimam a capacidade de pessoas que estão na ponta de se organizarem e mobilizarem outras pessoas para conseguirem uma efetiva participação social na saúde e outras áreas; Todos os projetos estão de parabéns, porque entregaram novidades e permitiram a integração de experiências nacionais e internacionais”, destacou o oficial especialista em Sistemas de Saúde da OPAS/OMS no Brasil, Fernando Leles, parabenizando os autores e co-autores das experiências premiadas.

SOBRE O MANAÓS

O Projeto Manaós é desenvolvido há dois anos no Parque das Tribos, primeiro bairro indígena de Manaus. O projeto foi aprovado na Chamada Pública 001/2021 do Edital Inova Fiocruz, com foco no apoio a propostas que dialogam com os objetivos, princípios e pressupostos do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena. Na primeira fase, o projeto realizou o mapeamento dos perfis socioeconômico e da saúde da população que vive na comunidade, identificando os processos de organização sociocultural e política, no acesso aos serviços de saúde. Na segunda etapa, o projeto busca desenvolver linhas específicas de ação voltadas ao empoderamento comunitário, a formação de agentes indígenas de saúde e à investigação de fatores de risco cardiovasculares dos indígenas que vivem em área urbana. Essa investigação, de acordo com Rodrigo Tobias, inaugura no Brasil uma linha de pesquisa específica com indígenas não-aldeados que vivem em contextos urbanos e periféricos das grandes cidades.

Raniele Alves, autora da dissertação intitulada “Redes Vivas na Amazônia Indígena Urbana: cartografia do acesso aos serviços de saúde e produção do cuidado em Manaus/AM“, explica que a pesquisa ocorreu de forma colaborativa e com a participação ativa da comunidade do Parque das Tribos. “É importante ressaltar isso pois nossa intenção ao escrever sobre nossa experiência para a OPAS foi justamente abrir e visibilizar uma temática tão atual na academia, de que não se faz pesquisa sozinho e muito menos de forma neutra, estamos rodeados de questões políticas e sociais, principalmente em nosso contexto Amazônico”, salienta Raniele.

INVISIBILIDADE

A autora ressalta ainda que o trabalho foi escrito a quatro mãos: “Uma mulher indígena Kokoma, liderança da Comunidade Parque das Tribos, e uma mulher afroamazônica que tem suas raízes ancoradas em uma ancestralidade quilombola e indígena”, descreve. “O que escrevemos foi, sobretudo, resultado do que aconteceu no caminhar e na feitura da pesquisa. Como uma boa anfitriã, a cacica Lutana Kokama abriu as portas da sua casa e da Comunidade para juntos realizarmos uma pesquisa-ação sobre a questão da invisibilidade indígena no contexto urbano, principalmente em relação ao acesso aos serviços de saúde”, disse.

Para Raniele, o reconhecimento pela OPAS reverbera de forma significativa. “Nossa intenção é cada vez mais viabilizar e possibilitar que as vozes indígenas sejam reconhecidas nesses espaços e principalmente, no que tange a pesquisa com Povos Indígenas, precisamos assumir uma postura enquanto academia de utilizar metodologias que decolonizem a academia, da escrita e principalmente do modo de ‘reescrever’ principalmente quando voltado para as populações Indígenas”, salientou, acrescentando que “a luta pela saúde indígena em contexto urbano segue firme com a transformação dos estigmas identitários em protagonismo, autonomia e empoderamento”.

Projetos Manaós e Iguatu realizam 1º Puxirum Ambiental no leito de igarapé no Parque das Tribos em comemoração ao Dia Mundial da Limpeza

17 de setembro de 2023/

O Projeto Manaós: Saúde Indígena no Contexto Urbano, desenvolvido pela Fiocruz Amazônia, em parceria com o Projeto Iguatu, realizaram na manhã deste sábado, 16/09, uma grande ação de limpeza num trecho de aproximadamente 880 metros do leito do igarapé da Anaconda, um dos afluentes do Tarumã Açú, que corta a comunidade Parque das Tribos, no Tarumã, Zona Oeste de Manaus. A ação socioambiental, alusiva ao Dia Mundial da Limpeza, comemorado neste domingo, 17/09, faz parte das atividades de sensibilização desenvolvidas pelos dois projetos junto aos moradores da comunidade, onde convivem 35 etnias do Amazonas, reunidas num só território, já oficializado como o primeiro bairro indígena de Manaus. Denominado Puxirum, termo de origem indígena que significa ajuda mútua, o mutirão de limpeza foi o primeiro realizado pela comunidade, por meio da Associação Indígena e de Moradores do Parque das Tribos (Aimpat).

O pesquisador da Fiocruz Amazônia, Rodrigo Tobias de Souza Lima, coordenador do Projeto Manaós, explica que a ideia do 1º Puxirum Ambiental foi a de trazer a cosmologia dos povos indígenas, que associam o cuidado com a saúde ao cuidado com o território, para uma ação socioambiental de sensibilização, reunindo diversos atores, entre voluntários, moradores, estudantes e representantes de órgãos públicos do município. “Enxergamos na parceria com o Projeto Iguatu e a Aimpat essa possibilidade de promover saúde a partir da visão dos povos indígenas, segundo a qual cuidar do território significa cuidar da saúde, ou seja, uma ação socioambiental que tem a pegada de promoção da saúde e promoção da vida no contexto urbano para os indígenas. Aprendemos todos com essa experiência”, afirmou Tobias.

A ação ocorreu ao longo da manhã, com mais de 40 participantes, divididos em dois grupos: um que percorreu as ruas do bairro, no trecho mais próximo das margens do igarapé, e o outro que realizou a coleta de resíduos no próprio leito do curso d’água, que se encontra totalmente seco, em virtude da vazante severa. Guiados por indígenas moradores da área, os participantes desse grupo coletaram todo tipo de resíduo, principalmente plástico, isopor, restos de eletrodomésticos, como geladeira e televisão, malhadeiras de pesca, fios de arames, entre outros, descartados nos diferentes cursos d’água da cidade. O grupo percorreu cerca de um quilômetro de margens até finalizar a ação com o resultado da coleta. Todo o lixo retirado seguiu para o aterro controlado de Manaus, por meio do Secretaria Municipal de Limpeza Pública (Semulsp), que também enviou uma equipe de educação ambiental para sensibilizar os moradores.

“O igarapé é fonte de vida para a comunidade, utilizamos para o nosso lazer, pesca, mas infelizmente a poluição e a contaminação das águas vêm tirando esse direito do nosso povo. Estamos aqui hoje mobilizando o Parque das Tribos, por meio da parceria com os projetos Manaós e Iguatu sobre a importância de manter o rio limpo, preservarmos as nascentes de onde ainda podemos beber e retirar o nosso peixe, sem isso não podemos mais contar com as águas do rio”, afirmou a liderança indígena Lutana Kokama (Lucenilda Ribeiro Albuquerque), presidente da Aimpat. Segundo ela, as nascentes do Igarapé da Anaconda estão sob ameaça de assoreamento em virtude de uma obra que está sendo realizada na área.

IGUATU

O Projeto Iguatu é uma iniciativa selecionada pelo Programa Laboratório Ambiental Brasil Jovem (Labjovem), que conta com o apoio da Embaixada da França no Brasil para realizar o trabalho de sensibilização ambiental junto à comunidade do Parque das Tribos. Eles utilizam, entre outros recursos, o teatro como ferramenta de conscientização, além de realizarem oficinas sobre separação de resíduos e compostagem com moradores (sobretudo crianças e jovens), residentes nas proximidades das margens dos igarapés. O projeto tem parceria ainda com o grupo Casa Teatro Tauá Caa, que realiza esquetes teatrais sobre temas relacionados à problemática ambiental. No Puxirum, o grupo apresentou a esquete “O Gigante”, retratando as alegrias e os dramas de quem vive às margens dos cursos d’água em Manaus.

“O Puxirum é momento de sensibilizar a comunidade, os próprios indígenas para que se juntem a nós. Convidamos parceiros, amigos, mas o ponto principal é a comunidade, pensando em soluções adequadas para o Parque das Tribos”, explica Almira Neta, mentora do Projeto Iguatu. Moradora da comunidade há três anos, Ana Paula Macena, da etnia mura, se disse satisfeita com a ação. “Defendo a causa do meio ambiente e estou disposta a ajudar no processo de proteção das águas dos rios na comunidade. Não basta apenas defender, temos que agir. Essa é uma área importante para todos nós, fazemos eventos, cultos e usamos como lazer também, tanto aqui quanto na área mais à frente. A vazante mudou o ritmo da cheia dos rios e não temos mais uma data certa para saber quando vai voltar a encher, por isso precisamos cuidar e não deixar que o lixo jogado nas ruas seja levado para o leito do igarapé”, lamentou ela.

SOBRE O MANAÓS

O Projeto Manaós é vinculado ao Laboratório de História, Políticas Públicas e Saúde na Amazônia (Lahpsa/Fiocruz Amazônia) e foi aprovado no edital 2021 do Programa Inova Fiocruz – Saúde Indígena, que “incentiva a transferência do conhecimento gerado em todas as áreas de atuação da Fundação Oswaldo Cruz para a sociedade, e conta com financiamento do Fundo de Inovação da Fiocruz e do Ministério da Saúde, por meio da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCTIE)”, explica o pesquisador  Rodrigo Tobias Lima, coordenador do Projeto.

O objetivo principal do Projeto é avaliar as condições de saúde da população indígena residente na Comunidade do Parque das Tribos, localizada na zona oeste de Manaus, e analisar sua capacidade de acesso à rede de serviços de saúde na capital. São também parceiras institucionais do Manaós: a Coordenação dos Povos Indígenas de Manaus e Entorno (Copime), Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Secretaria Municipal de Saúde de Manaus (Semsa-Manaus), Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (SES-AM), Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai-AM), Universidade Federal do Amazonas (Ufam-AM), Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Fiocruz Brasília e Fiocruz Ceará.

Fiocruz Amazônia faz pré-lançamento de livro sobre Saúde Indígena nas Cidades no Diálogos Amazônicos com base na experiência do Projeto Manaós

7 de agosto de 2023/

O Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia) marcou presença na manhã deste sábado, 5/08, no evento Diálogos Amazônicos, em Belém (PA), com o pré-lançamento do livro “A saúde indígena nas cidades: redes de atenção, cuidado tradicional e intercultural”, obra desenvolvida a partir de trabalhos e incursões junto aos povos indígenas no Brasil, com especial atenção aos que vivem em contextos urbanizados. Entre as experiências abordadas, está o Projeto Manaós: Saúde Indígena no Contexto Urbano, coordenado pelo pesquisador em Saúde Pública da Fiocruz Amazônia, Rodrigo Tobias. Rodrigo apresentou o trabalho durante painel sobre Plano de Saúde da Amazônia Legal, numa iniciativa da Presidência da Fiocruz. O Diálogos Amazônicos é evento prévio da Cúpula da Amazônia, que acontecerá entre os dias 8 e 9/08, na capital paraense.

O Projeto Manaós, desenvolvido por meio do Programa Inova Fiocruz, realiza uma série de atividades voltadas para as 750 famílias de 35 etnias que vivem no Parque das Tribos, primeiro bairro indígena de Manaus, no Amazonas. O objetivo é reunir informações sobre a saúde dessas populações, para que se invista em políticas públicas que atendam a esse público em específico. Na primeira fase do projeto, foi feito um levantamento dos principais agravos de saúde que acometem essa população. Na segunda fase, que ainda está em andamento, a finalidade é investigar a prevalência de fatores de risco associados a doenças cardiovasculares.

Para Tobias, o pré-lançamento do livro num evento do porte do Diálogos Amazônicos é uma oportunidade de evidenciar projetos, iniciativas sociais, programas políticos e projetos de pesquisa que têm como enfoque a saúde de populações em situação de vulnerabilidade, nos grandes centros urbanos, entre eles populações e etnias indígenas. A edição é da Rede Unidas.

“Acreditamos que o livro possa ser um instrumento que vocaliza a necessidade e as bandeiras de luta e resistência dos movimentos indígenas, mas sobretudo conversa com as instâncias do Governo Federal, uma vez que pensamos em revisitar a política pública do subsistema de saúde indígena que não ampara a saúde dos indígenas não aldeados, e assim revisitarmos a política nacional de atenção básica, que tenha um enfoque de produzir vínculo e o cuidado com populações indígenas na perspectiva da interculturalidade”, afirmou o pesquisador.

Na oportunidade, estavam presentes o secretário Especial de Saúde Indígena do Ministério da Saúde, Vanderson Brito, e o assessor especial da ministra da Saúde, Nísia Trindade, Valcler Rangel Fernandes, além de representantes da Fiocruz Amazônia, Fiocruz Rondônia, Universidade Federal do Pará, Universidade do Estado do Pará, Instituto Emilio Goeldi e Instituto Evandro Chagas.

Além de Rodrigo Tobias, atuam como organizadores da obra Noeli das Neves Toledo, Camila Carlos Bezerra, Raniele Alana Lima Alves e Tais Rangel Cruz Andrade. O livro aborda experiências na atenção básica e especializada com populações indígenas, o trabalho em saúde indígena, promoção e educação em saúde indígena, vigilância de agravos com populações indígenas, cuidado tradicional e intercultural, ações de enfrentamento da Covid-19 nos territórios na relação com as redes de atenção instituídas nos centros urbanos de cidades situadas nos estados do Amazonas, Tocantins, São Paulo, Mato Grosso, Santa Catarina.

MULTICULTURALIDADE

A obra concentra um conjunto de relatos e resultados de pesquisas, bem como reflexões fundamentadas sobre processos, estruturas e contextos diferenciados de produção de cuidado, na perspectiva da multiculturalidade, representativos das populações indígenas que acessam os serviços de saúde de quatro das cinco regiões brasileiras. Assim, a obra colabora com a realização de um mundo melhor, quando apresenta dispositivos, arranjos e agenciamentos para a produção do cuidado junto a populações vulneráveis socioambientalmente, contrariando um sistema social discriminatório para indígenas que gera desigualdades sociais, principalmente nos centros urbanos

Fiocruz Amazônia recebe comitiva da Universidade de Pittsburgh para fortalecer estudos sobre a Amazônia

19 de junho de 2023/

Representantes da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, estiveram na última sexta-feira (16/06) na sede do Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia) como parte de uma programação de visitas da universidade norte-americana a instituições de ensino e pesquisa da Amazônia com a finalidade de buscar parcerias para projetos de cooperação visando a criação de um programa de estudos amazônicos. A ideia é promover seminários conjuntos e oferecer oportunidades de intercâmbio para alunos, professores e pesquisadores das instituições envolvidas. A comitiva foi formada pela diretora do Centro de Estudos da América Latina da Universidade Pittsburgh, Keila Grinberg; Ariel Armony, vice-reitor para Assuntos Globais; Carissa Slotterback, pró-reitora da Escola de Relações Internacionais, e Luiz Bravo, diretor acadêmico do centro.

Antes, o grupo esteve em Belém, onde conversou com representantes da Universidade Federal do Pará (UFPA) e, em Manaus, visitou a Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam). Na Fiocruz Amazônia, a comitiva foi recebida pela diretora da instituição, Adele Benzaken, as vice-diretoras de Pesquisa e Inovação, Stefanie Lopes, e de Ensino, Informação e Comunicação, Rosana Parente, juntamente com o pesquisador do Laboratório de História, Políticas Públicas e Saúde na Amazônia (LAHPSA), Rodrigo Tobias de Souza Lima, coordenador do Projeto Manaós: Saúde Indígena no Contexto Urbano, apresentado aos representantes da Universidade de Pittsburgh. A visita da comitiva, inclusive, iniciou com a ida à comunidade Parque das Tribos, primeiro bairro indígena de Manaus, onde a Fiocruz Amazônia desenvolve o projeto.

“Nosso objetivo é tentar criar um grupo de estudos amazônicos em parceria com várias universidades e institutos de pesquisa pan-amazônicos, a exemplo do Brasil, Bolívia, Peru, Colômbia, Equador, Venezuela, Suriname, Guiana Francesa e Guiana, que permitam o desenvolvimento de pesquisas sobre temas de interesse comum e, neste momento, estamos realizando os contatos com parceiros, a partir de ideias discutidas em janeiro deste ano durante reunião, realizada na Universidade de Pittsburgh”, explicou a diretora do Centro de Estudos da América Latina, da Universidade de Pittsburgh, Keila Grinberg. “Mais adiante, queremos criar um programa permanente de intercâmbio de conhecimento sobre a região”, diz Keila, que é brasileira.

Segundo ela, o interesse maior é o do intercâmbio de conhecimentos. “Queremos aprender com as práticas que já existem aqui e propiciar que nossos alunos possam absorver também conhecimentos com os programas de excelência desenvolvidos pela Fiocruz Amazônia, a exemplo do trabalho com as comunidades indígenas, e que também possamos realizar colaborações para pesquisas futuras”, afirmou Grinberg, se dizendo entusiasmada com a possibilidade de colaboração conjunta para a criação de um programa de estudos amazônicos dentro do Centro de Estudos da América Latina, na universidade norte-americana.

“Nossa intenção é facilitar que estudantes das diversas instituições amazônicas possam estudar em Pittsburgh, com um programa de bolsas, e facilitar o intercâmbio entre professores, pesquisadores e alunos para que alunos de cá possam ir pra lá e vice-versa, identificando temas de interesse comum podemos tentar partir para atividades específicas. Um dos temas, por exemplo, sobre o qual temos muito interesse é o da Amazônia urbana e suas questões, assim como as discussões sobre os direitos humanos, memória, formação de políticas públicas e saúde coletiva”, pontuou Grinberg.

Segundo a diretora, a Universidade de Pittsburgh possui uma escola de saúde pública que é referência internacional, com um dos institutos mais importantes dos EUA nessa área. “Queremos justamente expandir isso para aprender e conhecer mais sobre a questão cultural e de tantos diferentes saberes na Amazônia”, observou.

No Parque das Tribos, os representantes de Pittsburgh tiveram oportunidade de contato com indígenas de algumas das 35 etnias existentes na comunidade, participantes de projeto da Secretaria Municipal de Saúde (Semsa) da Prefeitura de Manaus, voltado para idosos. Na sequência, visitaram as obras da Unidade Básica de Saúde (UBS), a primeira do bairro, construída pelo município para atender a população do bairro. O projeto conta com a parceria da Fiocruz Amazônia na discussão quanto à caracterização e concepção do uso espaço para troca de saberes tradicionais. Na oportunidade, Rodrigo Tobias fez um apanhado da trajetória de conquistas do Projeto Manaós – atualmente na segunda fase de estudos – e destacou a importância da participação indígena no processo de melhoria das condições de assistência à saúde da localidade. À tarde, a comitiva se reuniu com a diretoria e conheceu as estruturas dos laboratórios e salas de aula do ILMD.

PROJETO MANAÓS

O Projeto Manaós: Saúde da População Indígena em Contexto Urbano” é desenvolvido pela Fiocruz Amazônia, por meio do Edital Saúde Indígena, do Programa Inova Fiocruz. O projeto entrou em sua segunda fase de execução de atividades voltadas para as 750 famílias de 35 etnias indígenas, que vivem atualmente no Parque das Tribos, primeiro bairro indígena de Manaus. Inicialmente, o Manaós atuou no diagnóstico da realidade dos indígenas desaldeados e as dificuldades enfrentadas por eles no acesso aos serviços de saúde. Passará agora a desenvolver linhas específicas de ação, voltadas ao empoderamento comunitário, formação de agentes indígenas de saúde e a investigação de fatores de risco cardiovasculares dos indígenas que vivem na área urbana. Essa investigação inaugura no Brasil uma linha de pesquisa específica com indígenas não aldeados que convivem com contextos urbanos e periféricos das grandes cidades

Indígenas discutem caracterização de espaço para troca de saberes na UBS do Parque das Tribos

26 de maio de 2023/

Impulsionada pelo Projeto Manaós: Saúde da População Indígena em Contexto Urbano, desenvolvido pela Fiocruz Amazônia, por meio do Edital Saúde Indígena do Programa Inova Fiocruz, a discussão em torno da participação da comunidade indígena do Parque das Tribos no processo de concepção do uso e caracterização da Unidade Básica de Saúde (UBS), vem avançando, com o apoio da Secretaria Municipal de Saúde, da Prefeitura de Manaus, juntamente com as etnias que integram a comunidade. No último dia 10/05, uma reunião com as lideranças indígenas da localidade teve como finalidade discutir a caracterização da UBS do Parque das Tribos como um espaço para troca e valorização dos saberes tradicionais. O encontro ocorreu na Maloca e teve como pauta, entre outras sugestões, o uso de grafismos indígenas e a definição dos espaços para o cultivo de plantas medicinais na unidade.

O pesquisador da Fiocruz Amazônia, Rodrigo Tobias, coordenador do Projeto Manaós, explica que a articulação promovida pelo projeto, junto à comunidade e à Semsa Manaus vem reverberando positivamente no processo de comunicação entre as partes. “A possibilidade de fazer a estruturação do ambiente e também proporcionar espaço de encontro entre saberes, entre os indígenas e equipe de saúde, sempre foi um dos nossos objetivos, fazendo com que a UBS Parque das Tribos  pudesse ser um ponto de encontro, para além de buscar a saúde e o conhecimento biomédico ocidental hegemônico, fosse possível resguardar também espaços para pajés e também hortas e plantações de ervas medicinais e curativas, que são terapias acessórias complementares ao tratamento biomédico”, explica Tobias.

Para o pesquisador, garantir espaço para esse cuidado intercultural na nova unidade básica de saúde é garantir a promoção de um cuidado que conversa com a ancestralidade e, também, com o conhecimento biomédico hegemônico tradicional. “A partir desse encontro, é possível se produzir novos saberes”, afirma, observando que a UBS será referência dentro da política nacional de atenção básica uma vez que produzirá um cuidado intercultural com um público formado pelas 35 etnias que se encontram no Parque das Tribos.

Participaram da reunião, no último dia 10/05, lideranças da etnia Witoto, Piratapuya, Miranha, Munduruku, karapãna e Kokama. Diversas propostas foram levantadas durante o encontro e serão apresentadas à Semsa Manaus. Após a reunião, as lideranças seguiram para uma visita de campo à área de construção da UBS. O cacique Carlos Miranha, presente à reunião, destacou que o processo participativo de construção da unidade, proporcionado pela Semsa, Fiocruz Amazônia e as etnias, é fundamental para atender as necessidades da comunidade. Ele, que também é pajé, ressaltou a importância de um espaço para o cuidado com a saúde dos povos indígenas.

O Projeto Manaós: Saúde da População Indígena em Contexto Urbano” é desenvolvido pela Fiocruz Amazônia, por meio do Edital Saúde Indígena, do Programa Inova Fiocruz. O projeto entrou em sua segunda fase de execução de atividades voltadas para as 750 famílias de 35 etnias indígenas, que vivem atualmente no Parque das Tribos, primeiro bairro indígena de Manaus. Inicialmente, o Manaós atuou no diagnóstico da realidade dos indígenas desaldeados e as dificuldades enfrentadas por eles no acesso aos serviços de saúde. Passará agora a desenvolver linhas específicas de ação, voltadas ao empoderamento comunitário, formação de agentes indígenas de saúde e a investigação de fatores de risco cardiovasculares dos indígenas que vivem na área urbana. Essa investigação, segundo Rodrigo Tobias, inaugura no Brasil uma linha de pesquisa específica com indígenas não aldeados que convivem com contextos urbanos e periféricos das grandes cidade

Projeto Manaós, da Fiocruz, se destaca entre experiências de impacto local selecionadas pelo Laboratório Latino-Americano de Práticas de Participação Social em Saúde

24 de maio de 2023/

O Projeto Manaós: Saúde Indígena no Contexto Urbano, desenvolvido pela Fiocruz Amazônia, foi selecionado pelo Laboratório Latino Americano de Práticas de Participação Social em Saúde, criado pelo Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), como uma das 30 melhores experiências de impacto local em saúde de populações vulnerabilizadas que participaram da seleção de projetos aberta no ano passado. O Laboratório tem como finalidade possibilitar trocas e aprendizados, além de potencializar as ações dos atores envolvidos na execução dos projetos em níveis regionais, nacional e internacional, com as experiências escolhidas a partir dos eixos Participação e Controle Social em Políticas Públicas de Saúde e Participação e Engajamento Comunitário em Práticas de Saúde.

No útlimo dia 11/05, o projeto foi uma das cinco experiências apresentadas durante a terceira live do Laboratório. Serão realizadas, no total, seis encontros virtuais que terão como finalidade dar visibilidade aos projetos. Apresentado pelo pesquisador da Fiocruz Amazônia, Rodrigo Tobias de Souza Lima, coordenador do projeto, o Manaós é desenvolvido no Parque das Tribos, o primeiro bairro indígena de Manaus. O projeto foi aprovado na Chamada Pública 001/2021 do Edital Inova Fiocruz, com foco no apoio a propostas que dialogam com os objetivos, princípios e pressupostos do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena. Na primeira fase, o projeto realizou o mapeamento dos perfis socioeconômico e da saúde da população que vive na comunidade, identificando os processos de organização sociocultural e política, no acesso aos serviços de saúde.

Os projetos selecionados pelo Laboratório Latino-Americano de Práticas de Participação Social em Saúde participarão do processo de intercâmbio, por meio de oficinas e troca de experiências, dentro do desenvolvimento proposto pelo Laboratório de Inovação. Além disso, receberão um certificado de reconhecimento do projeto.

As experiências consideradas como de destaque irão compor uma publicação organizada pelo CNS e pela Opas. “O Manaós tem ganhado dimensões de notoriedade local, regional e internacional, o que para a coordenação do projeto é bastante gratificante, uma vez que em pouco mais de dois anos de atuação já iremos fazer parte de uma publicação inédita, tornando-o referência para a Região das Américas”, afirmou o pesquisador.

Além do Brasil, Uruguai e Colômbia também tiveram experiências inovadoras selecionadas e presentes na terceira live do Laboratório, cujo tema foi “Participação Social em Saúde para garantia do direito de populações em situações de vulnerabilidades”.

Confira: https://youtube.com/live/zY9KouDBBFo?feature=share

LABORATÓRIO DE INOVAÇÃO

O Laboratório de Inovação Latino-Americano de Práticas de Participação Social em Saúde recebeu 146 relatos de experiências (125 nacionais e 21 internacionais), sendo que 122 foram homologadas por cumprirem os requisitos do edital (20 internacionais e 102 nacionais), disponíveis para conferência no mapa, organizadas por eixo e/ou por Estado, disponível no site do LIS. ( www.apsredes.org/lis-cns ).

Entre os eixos previstos no edital de chamamento, foram homologados 79 relatos do Eixo A – Participação e controle social em políticas públicas de saúde e 43 relatos do Eixo B – Participação e engajamento comunitário em práticas de saúde. Todas as experiências homologadas estão acessíveis no site do Portal da Inovação na gestão do SUS ( apsredes.org ), compondo um mosaico. As experiências foram consideradas potentes e vão contribuir para o fortalecimento da participação social em saúde, segundo os organizadores.

A primeira live, realizada no dia 19 de abril, abordou experiências de participação social que enfatizam a importância da comunicação dialógica e descentralizada para o Sistema Único de Saúde. O intercâmbio de conhecimentos mostrou como as experiências potencializam as ações dos conselhos, das entidades, dos movimentos, da comunicação como estratégia de fortalecimento da comunidade, como manifestação das necessidades das populações em suas diferentes situações e de conscientização de educação em saúde. O resultado foi um panorama das variadas facetas da comunicação que ajudam a fortalecer o SUS. Saiba mais aqui: https://apsredes.org/experiencias-de-participacao-social-enfatizam-a-importancia-da-comunicacao-dialogica-e-descentralizada-para-o-sistema-unico-de-saude/ . A segunda live, que aconteceu no dia 25 de abril, teve foco na garantia da cidadania, com o intercâmbio entre experiências que lutam pela concretização do direito à saúde nos países latino-americanos. Saiba mais em: https://apsredes.org/cooperacao-horizontal-entre-paises-da-america-latina-destaca-praticas-de-participacao-social-em-saude-para-a-garantia-da-cidadania/ .

Projeto Manaós, da Fiocruz Amazônia, leva indígenas do Parque das Tribos para o Acampamento Terra Livre

28 de abril de 2023/

O Projeto Manaós: Saúde Indígena no Contexto Urbano, desenvolvido pela Fiocruz Amazônia, participa do 19º Acampamento Terra Livre, realizado entre os dias 24 e 28 deste mês, em Brasília, juntamente com lideranças indígenas do Parque das Tribos, primeiro bairro indígena de Manaus, área de atuação do projeto. O Terra Livre reúne anualmente representantes dos 305 povos indígenas existentes em território brasileiro com a finalidade de reafirmar e fortalecer a luta pelos direitos dos povos indígenas.  Por meio do Projeto Manaós, lideranças do Parque das Tribos participam pela primeira vez do movimento como parte do componente de responsabilidade social do projeto. O evento encerra nesta sexta-feira, com a leitura da carta final do ATL 2023.

Com uma programação extensa de reuniões plenárias e marchas, o ATL iniciou na última segunda-feira, 24/4, tendo como pontos altos o lançamento da Frente Parlamentar Mista de Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas e ato em frente ao Congresso Nacional pelo enfrentamento de PLs (projetos de lei) anti-indigenas, em especial o PL 191/2020, que trata sobre a liberação da mineração em terras indígenas. Ao longo da semana, foram realizadas plenárias com temáticas variadas, a exemplo da saúde indígena, educação escolar indígena, retomada do Comitê Indígena de Mudanças Climáticas, Comissão Nacional de Memória e Verdade Indígena, luta da juventude indígena pelo movimento identitário e julgamento do Marco Temporal e suas implicações no direito dos povos indígenas.

A comitiva do Parque das Tribos esteve entra as mais de 20 delegações indígenas do Amazonas presentes ao ATL. O pesquisador da Fiocruz Amazônia, Rodrigo Tobias, coordenador do Projeto Manaós, explica que a comitiva participou de atividades também na Fiocruz Brasília e Universidade de Brasília (UNB), entre as quais o Encontro Geopoesia, Raizamas e Recomeços: montando o acampamento e orientações sobre a (in)disciplina. “Este encontro foi dividido em duas estrofes: acolhimento de quem chegava e orientações para jornada, e Raizamas, para estabelecer um percurso nas raízes e nos rizomas do Brasil, provocar deslocamentos de visões de mundo e reflorestar os sentimentos, nossas/os/es convidadas/os/es dialogaram com as pessoas participantes por meio de prosas poéticas sobre morte, recomeços e ancestralidade”, relatou Tobia