Oficina sobre saberes e conhecimentos tradicionais para lideranças indígenas

23 de setembro de 2021/

O Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia), por meio do Projeto Manaós Saúde da população indígena em contexto urbano: desafios da atenção primária no município de Manaus, promove no próximo sábado, 25/9, das 8h30 às 12h, a Oficina Valorizando os Saberes e Conhecimentos Tradicionais: Colóquios sobre as Vivências e Experiências Étnico-Culturais Indígenas. A atividade é voltada para lideranças indígenas da Comunidade Parque das Tribos.

O Projeto Manaós é vinculado ao Laboratório de História, Políticas Públicas e Saúde na Amazônia (Lahpsa/Fiocruz Amazônia) e foi aprovado no edital 2021 do Programa Inova Fiocruz – Saúde Indígena,   que “incentiva a transferência do conhecimento gerado em todas as áreas de atuação da Fundação Oswaldo Cruz para a sociedade, e conta com financiamento do Fundo de Inovação da Fiocruz e do Ministério da Saúde, por meio da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCTIE)”, explica o pesquisador  Rodrigo Tobias Lima, coordenador do Projeto.

São parceiras institucionais do Projeto Manaós: a Coordenação dos Povos Indígenas de Manaus e Entorno (Copime), Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Secretaria Municipal de Saúde de  Manaus (Semsa-Manaus), Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (SES-AM), Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai-AM), Universidade Federal do Amazonas (Ufam-AM), Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Fiocruz Brasília e Fiocruz Ceará.

O objetivo principal do Projeto é avaliar as condições de saúde da população indígena residente na Comunidade do Parque das Tribos, localizada na zona oeste de Manaus, e analisar sua capacidade de acesso à rede de serviços de saúde na capital.

“No Parque das Tribos vivem aproximadamente 3 mil indígenas, e concentra uma população étnica extremamente diversificada, sendo os Tucano, os Saterê-Mawé, os Tariana e os Ticuna as etnias mais numerosas. A pandemia da Covid-19 expôs ainda mais as populações tradicionais residentes em espaços urbanos, o que exige de nós, pesquisadores, maior compreensão das condições de vida a que estão submetidos esses grupos”, comenta Rodrigo Lima.

O Projeto já gerou dois importantes resultados indiretos como a criação de uma associação dos moradores e indígenas do Parque das Tribos, e a aprovação de projeto com financiamento da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) para a realização de ações de enfrentamento à Covid-19 no Parque das Tribos.

O coordenador observa que esses resultados contribuem para o empoderamento de famílias e auto-organização do coletivo de indígenas na busca de direitos, além de demostrarem o reconhecimento internacional das ações já desenvolvidas, no sentido de proteção social e de promoção de saúde com populações indígenas em contextos urbanos.

A Oficina Valorizando os Saberes e Conhecimentos Tradicionais: Colóquios sobre as Vivências e Experiências Étnico-Culturais Indígenas será ministrada pela professora e assistente social Andreia Cavalcante, da Semsa-Manaus.

“Canção pra Amazônia”

Texto: Jorge Eduardo Dantas (do Greenpeace Brasil)

Mais de 30 artistas, de vários estilos e gerações, pedem pela conservação do maior bioma brasileiro

Foi lançado na noite deste domingo (5), no programa “Fantástico”, da Rede Globo (RJ), um novo projeto artístico em prol da conservação das florestas brasileiras: é a “Canção pra Amazônia”, a nova empreitada do compositor Carlos Rennó no mundo das canções engajadas. 

Disponibilizada em áudio e vídeo, a Canção pra Amazônia é um grande apelo pela conservação da maior floresta tropical do planeta. Em sua letra, ela cita diversos problemas ambientais que ocorrem naquele bioma e que agravam a crise climática – como garimpo, a extração predatória de madeira, o ataque aos povos indígenas, e “as boiadas” do governo Bolsonaro que aumentam a pressão sobre a floresta e seus povos. A letra foi feita por Carlos Rennó e a melodia, por Nando Reis.

Participam da canção Agnes Nunes; a dupla Anavitória; Arnaldo Antunes; Baco Exu do Blues; Caetano Veloso; a atriz Camila Pitanga; Céu; Chico César; Criolo; Daniela Mercury; Diogo Nogueira; Djuena Tikuna; Duda Beat; Elza Soares; Flor Gil; Gaby Amarantos; Gal Costa; Gilberto Gil; Iza; Majur; Maria Bethânia; Milton Nascimento; Nando Reis; Péricles; Preta Gil; Rael; Rincon Sapiência; Samuel Rosa; Thaline Karajá; Vitão; e o sambista Xande de Pilares.

Ouça a canção nas principais plataformas: https://onerpm.link/cacaopraamazonia

Visite o site: https://vozdafloresta.com/ 

Nando Reis contou que o objetivo da Canção pra Amazônia é chamar a atenção para a violenta e gravíssima destruição deste grande patrimônio natural brasileiro: “Essa destruição vai na contramão de todo pensamento moderno ou sensato que existe até mesmo sobre a produção de riquezas. A destruição da Amazônia tem transformado a riqueza da floresta em um deserto, algo que trará gravíssimas consequências para o mundo. Por isso, a única medida cabível é alertar sobre a conservação”, disse.

O cantor e compositor contou também que os artistas, devido a sua popularidade e notoriedade, contribuem para levar mensagens importantes para “mais gente”: “Mas o que está por trás de um movimento como esse, da Canção pra Amazônia, é o pensamento de um cidadão. De todos nós emprestarmos as ferramentas que temos disponíveis em favor dessa causa”, contou o músico.

Amplificar vozes

É importante dizer que a Canção pra Amazônia não tem fins comerciais. Todos os custos envolvidos no processo foram para despesas fixas, como horas de gravação em estúdio. Os artistas participantes responderam a um convite e não receberam cachês, além de cederem sua imagem e voz para este projeto. “Queríamos mobilizar segmentos diversos, trazer artistas comprometidos com a causa e que pudessem amplificar, com suas vozes, o alcance da canção”, explicou Nando. Os cantores e cantoras participantes responderam ao chamado baseados em suas agendas, disponibilidade de tempo e afinidade com a pauta. 

Letrista da canção, Carlos Rennó contou que a Canção pra Amazônia é um projeto que existe há quase dois anos. A letra foi feita entre o final de 2019 e o início de 2020. “Entreguei a letra ao Nando no início do ano passado, quando a gente se preparava para colocar o projeto de pé. Mas aí veio a pandemia e mudou tudo”, disse o compositor. 

A gravação da música levou cerca de sete meses, entre fevereiro e agosto de 2021. Cada artista gravou seu trecho separadamente, como forma de minimizar os riscos de contaminação por Covid-19. Por isso, houve um intenso trabalho logístico nos bastidores para garantir que todos os artistas gravassem de maneira segura e eficiente, e pudessem também gravar sua participação no clipe da canção.  

Participação de todos

Coordenadora-executiva da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Nara Baré afirmou que a luta pela vida e pela conservação das florestas exige a participação de todos aqueles preocupados com o futuro do planeta.

“Estamos vivendo um período de grandes retrocessos, de grande violência contra a Amazônia e de grandes agressões aos povos indígenas. Ter tantas vozes somando neste movimento e chamando a atenção para esses problemas é muito bonito e útil. Mas precisamos de mais gente, de mais ação e de mais atitudes se queremos mudar o futuro que está se desenhando e as perspectivas negativas que temos hoje para a Amazônia”, disse a coordenadora.

Carolina Marçal é a Porta-Voz da Campanha da Amazônia do Greenpeace. Ela afirmou que apoiar este tipo de projeto faz parte da história da organização.

“O Greenpeace sempre procurou formas criativas e não-violentas de disseminar as mensagens que acreditamos e de engajar as pessoas na construção de um mundo mais verde e justo. Participar de um projeto desse porte, com tantos artistas importantes e relevantes da música brasileira, é uma maneira poética e forte de passar as nossas mensagens e de posicionar a sociedade a respeito da Amazônia. Apesar do desgoverno Bolsonaro que implementa uma agenda anti-ambiental destrutiva, nós continuaremos resistindo e lutando pela Amazônia. A arte é uma forma poderosa de ativismo, de luta e de resistência, e para nós é uma honra participar de um projeto como este”, disse a especialista. 

Dados

Canção pra Amazônia é uma iniciativa do Greenpeace e da Relicário Produções, que cuidaram da produção executiva da ação. Este projeto teve apoio também da Articulação dos Povos Indígenas no Brasil (Apib), da Coiab, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional – FASE Amazônia.

Recentemente, dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostraram que agosto de 2021 registrou 28.060 focos de calor, o terceiro pior índice da década! Este ano ficou atrás apenas de agosto de 2019 e agosto de 2020, mostrando como a gestão Bolsonaro tem sido ineficiente no combate ao fogo na Amazônia. 

Além disso, estudo recente do MapBiomas mostrou que, entre 1985 e 2020, a área utilizada para garimpo e mineração no Brasil cresceu seis vezes – saltando de 31 mil para 206 mil hectares. Só a Amazônia concentra 72,5% desse total. Isso significa que, de cada quatro hectares minerados no Brasil, três deles estão na Amazônia. Outro dado importante mostra que, entre janeiro e julho de 2021, 74% da abertura de novas áreas para mineração incidiu em áreas protegidas – como Terras Indígenas e Unidades de Conservação – revelando como o patrimônio natural brasileiro vem sendo depredado de maneira irracional e inconsequente. 

Oficinas com lideranças indígenas

Programação inclui discussões sobre saberes tradicionais e a questão da saúde indígena

O Projeto Manaós iniciará, neste mês de setembro, oficinas voltadas para as lideranças indígenas da Comunidade Parque das Tribos.

A primeira atividade ocorrerá no dia 25, sábado, pela parte da manhã, no espaço do Malocão.

Todos os moradores da comunidade estão convidados a participar.

Confiram a programação:

25/09/2021, às 8h30 às 12h: OFICINA 1 – VALORIZANDO OS SABERES E CONHECIMENTOS TRADICIONAIS: COLÓQUIOS SOBRE AS VIVÊNCIAS E EXPERIÊNCIAS ÉTNICO-CULTURAIS INDÍGENAS.

A ação é coordenada pela pesquisadora Andréia Cavalcante e contará com a presença de diversos parceiros.

Participe!

Projeto Manaós na pauta do GTI Saúde Indígena

Lideranças indígenas, entidades, autoridades estaduais e municipais reuniram-se no auditório da SES para debater sobre desdobramentos do projeto nas amplas esferas  

Fotos e Texto: Grace Soares

“É preciso trazer à luz estudos sobre importantes características das populações indígenas residentes em áreas urbanas de Manaus. Porque estamos nos referindo a uma realidade vivenciada por indígenas de todos os centros urbanos do Brasil”. A fala do pesquisador Rodrigo Tobias, do Instituto Leônidas e Maria Deane (ILMD / Fiocruz Amazônia), representa a tônica dos debates ocorridos na manhã desta terça-feira, 24/08, no Grupo de Trabalho Interinstitucional (GTI) de Saúde Indígena.

A reunião, realizada em caráter extraordinário, foi convocada pela Gerência de Promoção da Equidade em Saúde, da Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (SES-AM), e teve como pauta a apresentação do “Projeto Manaós – Saúde da População Indígena no Contexto Urbano”, coordenado pela Fiocruz e desenvolvido na comunidade Parque das Tribos, localizada na zona oeste de Manaus.

“A questão da saúde indígena é um problema, aparentemente, invisível às políticas públicas, porém, visível a todos, a qualquer um que queira ver”, ressaltou Tobias, destacando que a proposta do projeto Manaós é despertar o amplo debate sobre o assunto entre entidades, autoridades do poder público e entre a sociedade civil também.

Para Adelaide Moraes da Mota, Indigenista da Fundação Nacional do Índio (FUNAI-CR-MAO), é urgente conhecer a real demanda desses grupos. “O Amazonas é um estado indígena. É preciso discutir sobre o que está acontecendo com os povos de nossa região, aldeados ou não. Vamos convidar ao debate mais lideranças, instituições locais, para que outros GTI’s surjam e o assunto saia da obscuridade. Como Funai, nos sentimos muito provocados a participar deste movimento iniciado pelo projeto Manaós”, explicou ela.

Moradores do Parque das Tribos também estiveram presentes na ocasião, liderados pela cacica Lutana Kokama. Para ela, que pela primeira vez participou da reunião do coletivo, a parceria com a Fiocruz representa grande progresso para a comunidade rumo à reivindicação dos seus direitos e à melhoria das condições de vida de suas famílias.

Lutana Kokama em sua fala sobre a parceria com a Fiocruz, ao lado do pesquisador Rodrigo Tobias.

Assembleia COPIME

Foto: Mayra Farias.

Texto: Grace Soares, com captação de Mayra Farias.

Encontro reúne número representativo de lideranças e é marcado por discussões sobre direitos indígenas e também pela apresentação do projeto Manaós para grupos locais

Na última sexta-feira, 20/08, pesquisadores do projeto “Projeto Manaós – Saúde da População Indígena no Contexto Urbano”, coordenado pelo Instituto Leônidas e Maria Deane (ILMD/ Fiocruz Amazônia), participaram do VII Encontro dos Povos Indígenas de Manaus e entorno, ocorrido na Comunidade Terra Preta (baixo Rio Negro, distante 80 quilômetros de Manaus). O convite partiu da Coordenação dos Povos Indígenas de Manaus e Entorno (Copime), entidade articuladora do evento, e possibilitou a apresentação do projeto para as lideranças indígenas. Na oportunidade do encontro aconteceu a Assembleia Ordinária Geral da Copime.

De acordo com moradores locais, a Terra Preta surgiu em 1992, mas somente em 2002 foi registrada, assumindo um caráter de associação organizada. Nela vivem 49 famílias (196 pessoas). Por meio da Assembleia, os grupos esperam discutir e formalizar suas reivindicações em um documento que deverá ser encaminhado às autoridades. Todos almejam uma melhor assistência às comunidades indígenas, sejam elas urbanas ou rurais.

Ao todo, 82 lideranças marcaram presença no encontro. “Esse evento vem somar à luta, à mobilização que está acontecendo no Brasil inteiro durante todo o mês de agosto, em protesto ao Projeto de Lei 490. Situações de massacres, de atentado aos nossos direitos nos obrigam a sair às ruas pela vida dos nossos povos” explicou Marcivana Rodrigues Paiva, coordenadora da Copime.

A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados aprovou o PL 490 em junho passado. Conheça mais sobre o projeto clicando aqui.

Prefeitura promove vacinação em comunidades indígenas no Tarumã-Açu

Texto – Tânia Brandão / Semsa

Foto – Camila Batista / Semsa

As equipes da Prefeitura de Manaus iniciaram, nesta terça-feira, 10/8, a programação de vacinação contra a Covid-19 dos grupos indígenas que vivem nas comunidades Parque das Tribos, Cidade das Luzes, Cristo Rei e adjacências, localizadas na área do Tarumã-Açu, na zona Oeste da cidade. A programação se estende até a quarta-feira, 11/8, no horário das 9h às 15h, em dois pontos fixos, sendo um no Centro Cultural Malocão e o outro na Igreja Católica Indígena Arcanjo São Gabriel. Para facilitar ainda mais o acesso ao imunizante, uma equipe volante está percorrendo as localidades de difícil acesso daquela área, que reúne 35 etnias que vivem em contexto urbano.

A vacinação faz parte das estratégias de saúde indígena e tem o objetivo de reduzir os riscos de disseminação e os impactos da Covid-19 entre os indígenas que vivem na área urbana de Manaus.

A secretária municipal de Saúde, Shádia Fraxe, destacou que a iniciativa demonstra o compromisso do prefeito David Almeida com os povos indígenas que vivem naquela região. “A gestão do prefeito David Almeida reconhece a importância de ofertar proteção vacinal contra o novo coronavírus aos grupos étnicos que vivem em Manaus. Por isso, elaboramos uma estratégia para alcançar o número máximo de famílias e decidimos realizar a programação em dois dias, justamente para facilitar o acesso à vacina contra a Covid-19”, ressaltou.

A comunidade Parque das Tribos e adjacências apresenta uma diversidade significativa de povos indígenas, reunindo 35 etnias, dentre as quais, munduruku, mura, saterê-mauê, kokama, tikuna, pankararu, kambeba, piratapuia, baniwa e outras.  Segundo a gerente do Distrito de Saúde Oeste, Socorro Furtado, a receptividade dos moradores à vacinação está sendo muito boa. A estimativa é vacinar 600 pessoas nos dois dias da ação.

“Além dos pontos fixos, temos uma equipe volante indo às localidades onde há dificuldade para se deslocar até os pontos fixos. Agora pela manhã já fomos às comunidades Jurupari e Waikiru e seguiremos nesse ritmo até amanhã para facilitar ainda mais o acesso à vacina àquelas famílias indígenas que ainda não se vacinaram”, frisou.

Na manhã do primeiro dia de ação as equipes de atenção e vigilância já haviam vacinado cerca de 263 pessoas nos pontos fixos e 35 acamados na modalidade casa a casa, trabalho realizado pela equipe volante. Pelo menos 25 etnias já receberam as doses, dentre as quais mura, kokama, tikuna, tukano, baniwa, mundurucu, baré, tariano, apurinã, arapasso, saterê-mauê, kambeba, dessana e macuxi. Os imunizantes aplicados são: Pfizer (1ª dose), AstraZeneca (2ª dose) e Coronavac (2ª dose).

Agradecimento

Ismael Munduruku, uma das lideranças indígenas no Parque das Triboselogiou a ação da prefeitura e salientou que um grande desejo está sendo realizado após dias muito difíceis causados pela Covid-19.

“Ter vacina aqui no nosso território é um grande feito. Somos muito gratos ao prefeito David Almeida, à Secretaria Municipal de Saúde, a todos os que estão mobilizados nessa luta para vacinar os nossos parentes. Nós moramos longe, o transporte é difícil e a maioria das pessoas não costuma sair da comunidade porque têm medo e não sabe pegar ônibus, então isso é um grande feito para nós, uma coisa maravilhosa para o Parque das Tribos”, acentuou.

Vitória

Eliza Sateré, moradora do Parque das Tribos, compareceu ao ponto de vacinação para tomar sua primeira dose de vacina e reforçou que a iniciativa da Semsa é uma ação muito boa e representa proteção para uma doença que ameaça a todos. “Recomendo aos parentes que se vacinem para prevenir essa doença que leva à morte. Eu sou muito grata por me vacinar. Waku Sese (muito obrigada)”, disse.

A comunitária Dina Baré, uma das representantes do povo baré, acrescentou que a instalação de dois pontos estratégicos, sendo um no Malocão e outro na Igreja Indígena Arcanjo São Gabriel, foi uma estratégia acertada porque contempla os grupos indígenas que moram na segunda etapa da região do Parque das Tribos. “Temos muitos parentes que ainda não haviam se vacinado e nem tinham essa possibilidade porque o Parque das Tribos é uma área muito grande.  O posto da igreja fica mais fácil para chegar e se vacinar. Só temos a agradecer”, disse.

Planejamento

O chefe de imunização do Disa Oeste, Adamor Cavalcante de Assis Filho, explicou que o planejamento da vacinação começou há uma semana, considerando o transporte de insumos e outros materiais necessários para a realização da ação. “Nós trouxemos em torno de 2 mil doses de vacinas para essa ação de hoje. Por ser uma área geograficamente distante e considerando que eles não têm recursos para se deslocar aos pontos de vacinação, nós fizemos a vacinação chegar até eles. E a adesão está sendo muito boa”, sintetizou.

Os trabalhos no Tarumã-Açu estão sendo coordenados pelo Distrito de Saúde Oeste (Disa Oeste) e Programa Nacional de Imunização (PNI), com apoio do Núcleo de Saúde dos Grupos Especiais/ Departamento de Atenção Primária (Nusge/GAP/DAP).

Opas relata mais de 600 mil casos de covid-19 entre povos indígenas nas Américas

AFP

Foto: AFP – 22 de abril de 2021

Mais de 600 mil indígenas foram infectados e cerca de 15 mil morreram por covid-19 nas Américas desde o início da pandemia, disse nesta quarta-feira (4) a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), que instou os países a priorizarem o atendimento a essas comunidades.

“A pandemia exacerbou as desigualdades em nossa região. E isso é especialmente verdadeiro para nossos povos indígenas”, disse a diretora da Opas, Carissa Etienne.

“Devemos garantir que nossas respostas e nossas campanhas de vacinação anticovid não ampliem as iniquidades”, acrescentou ela em entrevista coletiva.

Para os 62 milhões de indígenas que vivem nas Américas, o risco de contrair covid-19 e morrer por complicações derivadas da doença é alto, segundo a Opas, o escritório regional da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Entre janeiro de 2020 e julho de 2021, a Opas recebeu notificação de 617.326 infecções e 14.646 mortes por covid-19 em povos indígenas em 18 países americanos.

Os Estados Unidos, com 4.860 óbitos de indígenas entre 259.884 casos registrados, é a nação mais afetada pela pandemia.

Em número de casos, vêm em seguida Chile (65.884), Peru (64.923), Colômbia (63.250), Brasil (51.334), Canadá (32.597), México (21.046), Guatemala (18.924) e Bolívia (18.700) .

Depois dos Estados Unidos, com a maior quantidade de mortes de indígenas, estão o México (3.253), a Colômbia (1.813) e o Chile (1.170).

As sociedades comunais onde o distanciamento físico é difícil, a pobreza, as barreiras linguísticas e a falta de redes de apoio social e financeiro tornam as comunidades indígenas “mais vulneráveis” ao contágio e mais propensas a não ter acesso aos serviços de saúde, de acordo com a Opas.

“Provavelmente há muitos mais infectados, mas podemos não saber porque eles têm tido dificuldades para receber o cuidado contra a covid-19 que merecem”, disse Etienne.

Por isso, enfatizou, os países devem envolver as populações indígenas na resposta ao coronavírus, traçar políticas alinhadas aos seus costumes e garantir que trabalhadores dos serviços de saúde conheçam as línguas dos indígenas e respeitem a medicina ancestral que praticam.

Etienne aplaudiu o fato de 17 países nas Américas terem incluído os povos indígenas como um grupo prioritário para a imunização.

“Mais de 134 mil indígenas estão totalmente vacinados na Guatemala e mais de 312 mil completaram seus esquemas de vacinação no Brasil”, afirmou ela, urgindo os governos a produzir melhores estatísticas sobre a população indígena.

“Poucos países coletam dados sobre o impacto da pandemia em todos os grupos étnicos, o que deixa os ministérios da saúde cegos para tendências importantes e valiosas de como o vírus está afetando nossas comunidades indígenas”, explicou ela, que elogiou os “dados sólidos” do Brasil e da Colômbia.

Projeto cria programas de rádio em línguas indígenas na Amazônia

Norte Energia passa a transmitir informação em Tupi, Macro-Jê e Karib para 12 territórios indígenas do Médio Xingu

Por Bússola

Cerca de 4 mil pessoas que vivem em 12 territórios indígenas da área de influência da Usina Hidrelétrica Belo Monte, no Médio Xingu, passaram a receber informações diárias nas línguas Tupi, Macro-Jê e Karib, que são os três troncos falados pelas nove etnias da região.

A iniciativa é da Norte Energia, concessionária da usina, e tem o objetivo de ampliar o alcance dos comunicados emitidos pela empresa, sobretudo os relacionados à área da saúde. Anteriormente, estes eram transmitidos apenas em português, via rádio, e traduzidos pelas lideranças das aldeias. Agora, a comunicação atinge diretamente os indígenas em questões importantes, como recomendações de prevenção à covid-19.

Os comunicados integram o Programa de Comunicação Indígena, criado em 2011 pela Norte Energia, com 32 estações de rádio. Hoje, este é o maior sistema de radiofonia indígena da região amazônica, com 88 estações.

De acordo com a gestora da área responsável pelo programa, Fernanda Mayrink,  a utilização da língua nativa nesse relacionamento está em linha com o Inventário Nacional da Diversidade Linguística do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), voltado ao reconhecimento da diversidade linguística como patrimônio cultural.

A comunicação ocorre duas vezes por dia, pela manhã e à tarde, e é realizada pela Norte Energia, Funai, Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI), e por outros entes responsáveis pela execução da política indigenista na região. Atualmente, 170 profissionais contratados pela empresa atuam no atendimento à saúde indígena, em articulação às políticas públicas voltadas aos povos indígenas da área de influência da UHE Belo Monte.

Desde 2011, a empresa construiu e repassou 31 Unidades Básicas de Saúde Indígena ao DSEI de Altamira/PA, além de disponibilizar equipamentos e veículos para os órgãos de saúde indígena da região. Durante a pandemia foram doadas 1.500 cestas básicas para famílias dos 12 territórios indígenas, com um total de 126 toneladas de alimentos.

Os compromissos do licenciamento ambiental de Belo Monte para atender os povos indígenas contemplaram ainda a construção de 20 escolas, 518 quilômetros de estradas e ramais de acesso às comunidades, 16 pistas de pouso e 31 sistemas de abastecimento de água, além de ações voltadas à assistência técnica, geração de renda e subsistência das famílias, fortalecimento institucional das associações indígenas, formação e capacitação de indígenas na área da saúde e educação escolar, e oficinas de gestão territorial, entre outras.

Elaboração de edital de seleção para apoio ao Projeto Manaós

Foto e texto: Grace Soares

A primeira atividade do “Projeto Manaós: Saúde da População Indígena no Contexto Urbano” é a realização do mapeamento socioeconômico e de saúde da população indígena que vive na Comunidade Parque das Tribos. Para operacionalizar esta ação, será necessário suporte direto dos moradores no processo de aplicação de questionários entre as famílias das comunidades.

Na semana passada, a coordenação do estudo esteve reunida com lideranças do Parque das Tribos, representadas pela cacica Lutana Kokama, para apresentação e discussão sobre o Edital de seleção de jovens mobilizadores indígenas que atuarão como apoio à pesquisa e à coleta de dados. A bolsa de apoio técnico é destinada a jovens indígenas com, pelo menos, o nível médio educacional.

“O projeto precisa ser feito junto com as pessoas da comunidade, senão não faz sentido essa parceria”, comentou Lutana, que revelou ter expectativas positivas em relação à melhoria da vida dos moradores do Parque das Tribos a partir dos resultados obtidos com a pesquisa.

Os indígenas e não indígenas residentes na área vivem em condição de vulnerabilidade total. A qualidade do serviço de saúde disponível é baixa e também não dialoga com suas culturas e tradições. Além disso, na contramão do quadro geral da pandemia no Brasil, é crescente o número de pessoas infectadas por COVID-19, indicando que medidas de prevenção e de controle do vírus podem não estar funcionando bem naquela região.

Em consenso, a versão final do documento foi aprovada. Em alguns dias, o Edital estará disponível no site para acesso e download e também deverá ser afixado em espaços de convivência da comunidade para amplo conhecimento e divulgação.

Mapeamento e intervenção

Estudo iniciará com mapeamento do perfil socioeconômico e de saúde da comunidade

Fotos e textos Grace Soares

Moradores da Comunidade Parque das Tribos, localizada na zona oeste de Manaus, participaram esta segunda-feira, 05/07, da 1ª reunião de trabalho do “Projeto Manaós – Saúde da População Indígena no Contexto Urbano”. O estudo é liderado pelo Instituto Leônidas e Maria Deane (ILMD/ Fiocruz Amazônia) e tem como objetivo avaliar as condições de saúde da população indígena residente naquela área e sua capacidade de acesso à rede de serviços de saúde na capital.

O encontro aconteceu na área de convivência da comunidade (um espaço amplo e aberto), atendendo a todos os protocolos de saúde, e reuniu diversos comunitários e lideranças locais, dentre elas a cacica Lutana Kokama e o cacique Ismael Munduruku. Foi marcado pela apresentação da proposta do projeto e pela definição, em conjunto, de critérios de seleção dos bolsistas que participarão da coleta de dados.  

No Parque das Tribos vivem, aproximadamente, 3 mil pessoas, concentrando uma população étnica extremamente diversificada, sendo os Tucano, os Saterê-Mawé, os Tariana e os Ticuna as etnias mais numerosas. A pandemia da COVID-19 expôs ainda mais as populações tradicionais residentes em espaços urbanos, o que exigiu maior compreensão das condições de vida a que estão submetidos esses grupos.  

“A organização social de populações indígenas em contexto urbano é um fenômeno relativamente recente e ainda pouco estudado, sendo necessário maior investimento em pesquisa para subsidiar as gestões municipal e estadual na implantação de políticas que ampliem o acesso”, explicou o coordenador do projeto Rodrigo Tobias, pesquisador do ILMD/ Fiocruz Amazônia.

A ação possui um componente de pesquisa importante, voltado para o mapeamento, a coleta de dados epidemiológicos e socioeconômicos, mas também conta com objetivos que visam à intervenção, algo que será possível por meio de oficinas de capacitação e construção de indicadores de saúde que podem auxiliar no acompanhamento das condições sanitárias da comunidade.

Pauta do encontro e primeira atividade a ser desenvolvida no cronograma do projeto, o mapeamento é um desafio que exigirá participação efetiva dos moradores. “Vamos realizar o treinamento com os jovens indígenas que moram na comunidade. Estes jovens irão entrevistar os chefes das famílias, com a finalidade de levantar informações sobre as condições de vida e saúde da área. As informações são muito importantes para identificar quais são as necessidades de saúde da comunidade. O mapeamento irá ajudar planejar e implementar ações de saúde mais adequadas à realidade dos indígenas que moram no Parque das Tribos”, ressaltou Noeli das Neves Toledo, pesquisadora da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e coordenadora da atividade.

Além da UFAM, são parceiras no projeto a Secretaria Municipal de Saúde (SEMSA), a Universidade do Estado do Amazonas (UEA), a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), a Coordenação dos Povos Indígenas de Manaus e Entorno (COPIME) e a Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI-AM).